Menina grávida é expulsa de casa e anos depois volta para surpreender a todos

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**Diário de Sofia**

Tinha apenas treze anos quando me expulsaram de casa por estar grávida. Anos depois, voltei para chocar a todos.

—Tens alguma coisa a dizer, Sofia? — A voz do meu pai, Luís, ecoou pela casa, já embargada pela raiva. Encolhi-me, incapaz de olhá-lo nos olhos. As minhas mãos trémulas agarravam a barra da sua camisa enquanto encarava o chão, vazia.

—Vergonha! — acrescentou a minha mãe, Isabel, com um olhar gelado, sem qualquer traço de empatia.

Era tão jovem e já ia ser mãe. Meu Deus! Como poderia trazer alguém assim ao mundo?

—Eu… eu quis isto — gaguejei, incapaz de conter as lágrimas.

Luís bateu com força na mesa, fazendo a sala inteira tremer.

—Sabes a que desgraça trouxeste à nossa família? Tens noção do que as pessoas vão dizer? Como é que ainda tens coragem de aparecer nesta vila? — O desprezo de Isabel cortou como uma faca.

—Luís, porque estás a perder tempo com ela? Uma rapariga assim não merece ficar. Tem de enfrentar as consequências sozinha.

—Não, por favor, mãe, estou a implorar… — Levantei o rosto ensopado de lágrimas, mas deparou-se-me apenas com o frio do seu olhar.

—Porque é que ainda estás aí de joelhos? Sai daqui! — O meu pai ergueu-se bruscamente, apontando para a porta.

O chão pareceu desaparecer sob os meus pés. Tropecei para trás, os olhos arregalados de medo.

—Não tenho para onde ir… não sei o que fazer… — engasguei.

—O problema é teu. Não voltes. — Luís virou-me as costas como se eu fosse um estranho.

—Ele tem razão. Tê-la aqui só trará mais desonra à família — disse Isabel, a voz firme, mas carregada de desdém.

Lá fora, os vizinhos cochichavam, espreitando curiosos. Os seus olhares indiscretos e murmúrios cortavam-me como facadas.

—Fora, agora! — gritou o meu pai, sem paciência.

Virei-me e fugi, as lágrimas misturando-se com a chuva que começou a cair com violência. A água gelada ensopou-me enquanto vagueava pelas ruas escuras, os pés pequenos e congelados a arrastarem-se na lama.

—Sai daí! Este lugar não é para ti. — Um homem de meia-idade, rostinho severo, bloqueou a porta da casa abandonada onde me abrigara.

—Só preciso de um lugar para passar a noite — supliquei, a voz a falhar.

—Desaparece. Não quero problemas. — A porta fechou-se com um estrondo, deixando-me sozinha no temporal.

Tropecei até ao parque próximo, os bancos gelados o meu último refúgio. À medida que a noite avançava, encolhi-me no banco, apertando a barriga como se protegesse a pequena esperança que crescia dentro de mim.

—Ei, miúda, para aí! — uma voz rouca chamou, seguida de uma gargalhada maliciosa.

Três vultos surgiram das sombras, os olhos cheios de má intenção.

—O que queres…?

—O que fazes aqui a estas horas? Estamos a procura de diversão, e tu vais ser perfeita.

Recuei, os pés escorregando na calçada molhada. Os passos deles ecoavam atrás de mim, mas consegui perdê-los num beco estreito. Despenhei-me no chão, a tremer de medo e exaustão.

—Porque é que toda a gente me odeia? — soluçava, a voz abafada pela chuva.

Naquela noite, adormeci sob uma árvore, a friagem a penetrar nos ossos. Os sonhos trouxeram os meus pais, mas em vez de amor, só desprezo.

—Sofia, mereces isto.

Acordei aos solavancos, o corpo dorido e a febril.

—Vou morrer aqui? — pensei, o terror a apertar-me o peito.

Até que uma voz quente me resgatou do desespero.

—Menina, o que fazes aqui?

Uma senhora curvava-se sobre mim, um guarda-chuva grande a abrigar-nos da tempestade.

—Não tenhas medo, pobre menina. Vou ajudar-te.

Era a Dona Margarida. Levou-me para sua casa, humilde mas quentinha, cheirando a bolos acabados de sair do forno.

—Bebe isto. — Ofereceu-me chá quente, os olhos cheios de bondade.

Pela primeira vez em dias, senti um pouco de calor.

Mas a dor no peito continuava.

**Passados treze anos…**

Já não era a menina assustada que fugira de casa. Graças à Dona Margarida, ergui-me, abri um pequeno café nos arredores de Lisboa e chamei-lhe “Milagre”, em honra da minha filha, agora uma jovem de treze anos, inteligente e radiante.

Até que um dia, a porta do café abriu-se, e ela entrou.

—Isabel… — o nome saiu-me como um suspiro.

A minha mãe.

Mais velha, o cabelo prateado, os olhos cheios de remorso.

—Sofia… — chorou. — Precisava pedir-te perdão.

O rancor apertou-me a garganta. Mas a Milagre segurou a minha mão, e a Dona Margarida estava ao meu lado.

A vida ensinou-me que o perdão não apaga o passado, mas pode curar o presente.

E hoje, sob o mesmo teto, três gerações aprenderam que o amor, por mais tardio, sempre encontra o seu caminho.

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