ChatGPT said:
Entre Sonhos e Realidade
O som constante do relógio na parede ecoava na sala vazia, como um lembrete implacável do tempo que se esvaía. Para Clara, o tempo já não tinha mais significado. Ela tinha perdido o emprego meses atrás e, desde então, o mundo parecia ter se tornado uma névoa densa e impenetrável. Seu pequeno apartamento era um refúgio onde se isolava, vivendo em um ciclo sem fim de sono, sonhos e uma vida sem rumo. Quando acordava, o que sentia não era alívio, mas uma crescente sensação de desorientação, como se não soubesse mais onde começava a vigília e onde terminava o sonho.
Naquela noite chuvosa, Clara se deitou mais cedo, tentando fugir da angústia que lhe corroía o peito. Tentava, mais uma vez, escapar para um lugar onde o sofrimento não a encontrasse. Assim que fechou os olhos, foi imediatamente transportada para um lugar diferente. Ela se viu em uma floresta sombria, envolta em névoa. As árvores altas, antigas como guardiãs de um tempo esquecido, formavam uma linha, criando um caminho que ela sentia ser o único a seguir. As pedras iluminadas no chão pareciam guiá-la, aquecendo a terra fria, e Clara, ainda meio atordoada, sentiu algo profundo e reconfortante no ar.
Ela não sabia o que fazia ali, mas uma voz familiar a fez parar. “Você voltou, Clara. Está pronta para atravessar?”
Era um homem de capa azul, com uma presença tão firme quanto o próprio tempo. Clara não conseguia lembrar de tê-lo visto antes, mas algo dentro dela dizia que ele era uma figura crucial, parte de algo maior.
Ela hesitou. Não sabia como ou por que, mas a sensação de déjà vu foi tão forte que suas palavras ficaram presas na garganta. “Estou… pronta?”, ela sussurrou, sem saber exatamente o que perguntava.
O homem, com um gesto tranquilo, indicou o caminho à sua frente. “Vamos, então.”
O Refúgio nos Sonhos
Nos dias que se seguiram, Clara encontrou cada vez mais consolo no sono. A vida real parecia um peso insuportável, sem cor, sem brilho. Os dias se arrastavam, uma sucessão de horas sem propósito. Porém, quando ela fechava os olhos, a mente a levava para lugares mágicos. Viajava por cidades douradas onde o céu parecia mais azul do que qualquer um que ela já tivesse visto. Navegava por oceanos infinitos, cruzando mares imensos com a leveza de uma pluma. Falava com figuras que lhe revelavam respostas para perguntas que ela jamais ousaria fazer quando acordada.
Mas a medida que o tempo passava, a linha entre o mundo dos sonhos e o mundo real começava a se desfazer. O que antes parecia claro agora estava turvo, e Clara se via cada vez mais distante da realidade. Os amigos desapareceram, as chamadas não mais vinham, e ela se via sozinha, num silêncio absoluto, apenas quebrado pelo som da chuva na janela ou pelas buzinas distantes da cidade.
Olhou-se no espelho uma manhã e sussurrou para si mesma: “Acordar dói mais do que dormir.”
Ela mal reconhecia sua própria imagem. O cansaço a consumia, mas os sonhos, esses eram os únicos momentos de paz.
A Fronteira se Desfaz
Em uma dessas noites nebulosas, enquanto caminhava pela floresta onírica, Clara percebeu algo estranho. As árvores que antes formavam uma linha contínua começaram a se transformar, se alongando, se distorcendo até se tornarem prédios altos. A névoa deu lugar a ruas que ela reconhecia, ruas da sua própria cidade. A confusão tomou conta de sua mente. Ela estava sonhando, mas o cenário era tão real, tão familiar, que o limite entre os dois mundos parecia desaparecer.
Pessoas passaram por ela, mas nenhuma a reconheceu. Clara tentou chamar por alguém, mas sua voz parecia se perder no vento. Ela, então, avistou sua própria janela iluminada, no quarto andar de um prédio. Sem pensar, correu até lá, sentindo os passos mais pesados a cada segundo, até que chegou à janela. A cena lá dentro a fez parar: ali estava ela mesma, deitada na cama, imóvel, sem vida.
Assustada, Clara recuou e correu de volta pela trilha, mas o homem da capa azul apareceu novamente.
“Você precisa escolher, Clara. O que é mais real para você: este mundo ou aquele?”
Ela olhou para ele, sem saber o que responder. O medo e a incerteza a envolviam. O que significava ser “real” agora? O que ela era? Aquela mulher sozinha em um apartamento ou a viajante de mundos oníricos? A linha estava tão tênue que ela não sabia mais em que lugar se encontrava.
O Peso da Escolha
Com o tempo, os sonhos começaram a invadir sua realidade de maneira mais profunda. Certa manhã, ao abrir a geladeira, Clara encontrou uma maçã dourada. Ela a pegou, lembrando-se das árvores mágicas que havia visto na floresta. Quando tentou morder, a maçã se desfez em luz, como um reflexo de algo impossível.
Em outro momento, enquanto caminhava pela rua, ela jurou ter visto o homem da capa azul observando-a entre a multidão. Ele não estava mais apenas em seus sonhos. Estava aqui, agora, como uma sombra que a acompanhava. Clara sentiu seu próprio eu se fragmentar. Ela já não sabia mais onde começava a realidade e onde terminavam os sonhos.
Em uma tentativa de encontrar respostas, Clara começou a escrever tudo o que lembrava dos seus sonhos. Páginas e mais páginas se enchiam de símbolos, mapas e diálogos com seres que, à medida que ela escrevia, começavam a se tornar mais familiares. A escrita se tornou seu único elo entre os dois mundos, uma forma de manter sua sanidade intacta, uma forma de se lembrar de quem ela realmente era.
O Colapso
Uma noite, Clara sonhou que estava no mesmo apartamento, mas agora tudo estava vazio. As paredes eram brancas, sem cor ou vida. Não havia móveis, nem quadros, nem nenhum sinal de vida. Havia apenas uma versão dela mesma na cama, pálida e imóvel. Clara se aproximou, sentindo o peso do medo em seu peito.
Foi quando o homem da capa azul surgiu diante dela.
“Você está presa entre os dois lados. Precisa decidir agora. Se permanecer aqui, nunca mais acordará.”
Clara olhou para a versão adormecida de si mesma, com uma sensação de compaixão e medo. Ela sabia que estava em um ponto de inflexão. Será que sua vida real já tinha acabado? Será que ela, de fato, estava apenas esperando para partir?
O Despertar
Na manhã seguinte, Clara acordou com lágrimas nos olhos. Quando olhou para a mesa de cabeceira, encontrou a maçã dourada, como se tivesse sido deixada ali como um lembrete. Ela tocou a maçã e, ao fazê-lo, ela se dissolveu em pó luminoso, como se fosse parte de algo etéreo. A sensação de ter enlouquecido por um momento a invadiu, mas, ao mesmo tempo, algo dentro dela estava mais claro.
Clara decidiu que não mais fugiria. Ela procurou ajuda. Ligou para uma antiga amiga e contou sobre seus sonhos, sobre o isolamento, sobre a dor que a consumia. Pela primeira vez em meses, ela se levantou, saiu de seu apartamento e caminhou pelas ruas da cidade. Seus passos, embora hesitantes no início, se tornaram mais firmes a cada passo.
Epílogo
Os sonhos de Clara continuaram, mas agora ela entendia que eles eram apenas uma parte de sua vida. Ela não os rejeitou, mas também não mais os buscou como uma fuga. Aprendeu que os sonhos eram portais, mas que, por mais mágicos que fossem, não podiam substituir a realidade.
O homem da capa azul nunca mais apareceu. Mas, algumas noites, quando fechava os olhos, Clara ainda ouvia sua voz:
“A escolha é sua, sempre foi.”
Clara sorriu. Agora, ela sabia quem era.
