Esposa viaja a trabalho por um mês… e ao voltar, descobre algo chocante sob o travesseiro do marido.

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A chuva fina de Lisboa molhava as pedras das calçadas enquanto Joana saía do aeroporto, exausta da longa viagem de trabalho no Porto. A mala arrastava-se atrás dela, mas o coração batia forte, não apenas pelo sucesso do projeto, mas pela ansiedade de reencontrar o lar. E Diogo, o homem que a fazia sentir-se amada todas as noites.

Ao abrir a porta com a digital, a casa de dois andares cheirava a limpeza recente. Mal deixou a mala no chão, ouviu passos apressados descendo as escadas.

“Finalmente, amor!” Diogo a envolveu num abraço tão apertado que quase a tirou o fôlego. Seus olhos brilhavam. “Vamos para o quarto? Senti tanto a tua falta…”

Joana riu, afundando o rosto no ombro dele. O cheiro da sua pele, a respiração acelerada—tudo a fazia sentir-se em casa. “Deixa-me tomar um banho primeiro.”

Diogo fez beicinho, mas concordou. Enquanto ela se lavava, ele pôs música suave e preparou-lhe um sumo de laranja, deixando-o na mesa. Pequenos gestos que significavam o mundo para Joana.

Naquela noite, abraçaram-se como se nunca tivessem estado separados. Diogo sussurrava palavras doces, e Joana sentia-se sortuda. Enquanto muitas mulheres carregavam o mundo sozinhas, ela tinha um homem que a fazia sentir-se desejada.

Na manhã seguinte, Diogo acordou cedo para preparar o café da manhã: ovos, pão e um galão, bem do jeito que ela gostava. “Fica bem, meu amor,” disse, beijando-lhe a testa.

Joana sorriu. Diziam que os homens portugueses não eram românticos, mas o seu marido era a exceção.

Mas a felicidade, por vezes, é como o vidro: belo, transparente… e frágil.

Três dias depois, Joana encontrou uma gancho de cabelo vermelho debaixo da almofada. Não era dela—ela jamais usava aquela cor. Segurou-o entre os dedos, sentindo não raiva, mas uma tristeza profunda. As mulheres têm um sexto sentido. E ela não disse nada.

Naquela noite, deitada no braço de Diogo, perguntou suavemente:

“Enquanto eu estava fora… alguém veio cá a casa?”

Diogo respondeu sem hesitar: “Só o Miguel veio pedir a broca. Ninguém mais.”

Joana assentiu em silêncio. O sorriso nos lábios era forçado. Diogo não parecia notar—ou fingia não notar. Continuou a abraçá-la, contando histórias do trabalho. Mas as palavras que antes preenchiam a distância agora só alargavam o vazio no seu peito.

Algo não batia certo. O gancho vermelho. Um papel de rebuçado desconhecido debaixo da cama. O reflexo nervoso de Diogo ao virar o telemóvel ao receber uma mensagem. Tudo se juntava num puzzle doloroso.

Noutra noite, Joana esperou que Diogo adormecesse. Com mãos trémulas, pegou no telemóvel dele, escondido sob os lençóis. Coração aos saltos, revistou chamadas, mensagens, redes sociais. Nada de estranho—até encontrar uma conversa com um nome feminino que nunca ouvira.

Ler foi um soco no estômago.

“Tenho tantas saudades tuas.”
“Combino contigo no sábado.”
“O jantar foi perfeito. Até à próxima.”
“Boa noite, amor ❤.”

As datas coincidiam com as semanas em que estivera no Porto. O gancho, o rebuçado, o nervosismo—tudo fazia sentido agora.

Lágrimas quentes escorreram-lhe pelo rosto. Joana olhou para Diogo, tão sereno, tão falso.

“Enganaste-me, Diogo?” sussurrou, sufocando um soluço.

Correu para a casa de banho, trancou-se e chorou até não aguentar mais. Mas ao olhar-se no espelho, entre o rosto inchado e os olhos vermelhos, viu algo novo: determinação.

Na manhã seguinte, confrontou-o. Mostrou-lhe o gancho.

“Explica-me isto.”

Diogo gaguejou: “Deve ser do Miguel… ele deve ter deixado aqui…”

Joana interrompeu com uma gargalhada amarga.

“O Miguel? A usar ganchos vermelhos? E também é ele que te manda mensagens a dizer ‘Tenho saudades, amor’? Achas que sou parva?”

Diogo empalideceu. O silêncio foi a confissão. Quando murmurou, “Perdoa-me… não sei o que me deu…” Joana sentiu o mundo desabar.

Expulsou-o de casa. Chorou, desfez-se, ligou à sua melhor amiga. A casa, outrora um refúgio, transformara-se num lugar gelado, cheio de memórias falsas.

Sentada à janela, a observar a chuva cair sobre Lisboa, Joana perguntou-se:
*Quantas lágrimas mais terei de derramar até encontrar paz?*

Mas no meio da dor, surgiu uma certeza: a tempestade passaria. E ela, mesmo partida, aprenderia a levantar-se—porque até as cicatrizes mais profundas se tornam, um dia, marcas de força.

Os dias seguintes ao fim foram um inferno silencioso. A casa parecia enorme, vazia. Cada canto—o sofá, a mesa, a cama ainda com o cheiro dele—doía.

Mas lentamente, algo mudou dentro dela.

“Não posso deixar que esta traição destrua o resto da minha vida.”

A primeira semana foi a pior. Mal comia, mal dormia. As amigas revezavam-se a visitá-la, levando-lhe comida e distraindo-a.

“Ninguém merece as tuas lágrimas, Joana. Muito menos quem não te soube valorizar.”

A frase ecoou nela como um farol.

Passo a passo, Joana retomou o controlo. Levantava-se cedo, vestia-se com cuidado mesmo sem sair. Encheu a casa de flores frescas, mudou os lençóis, pintou o quarto de outra cor—como se cada mudança apagasse um vestígio de Diogo.

No trabalho, mergulhou nos projetos. Colegas admiravam-lhe a força, sem imaginar a dor que carregava. Cada elogio ao seu talento devolvia-lhe um pedaço de si mesma.

Três meses depois, era outra. Os olhos, ainda marcados, brilhavam com luz nova. Matriculou-se em aulas de yoga, retomou a pintura—uma paixão abandonada há anos.

Numa tarde, enquanto pintava com a janela aberta, a chuva voltou a cair. Desta vez, não a acompanhava na tristeza, mas num renascer. Sorriu, sem o peso do passado.

Foi então que Diogo tentou voltar. Apareceu à porta, encharcado, olhos vermelhos.

“Joana… Errei. Perdoa-me. Não consigo viver sem ti.”

Ela olhou-o demoradamente. Já não tremia, já não chorava. A voz saiu firme, cortante como uma faca:

“Eu consigo viver sem ti, Diogo. E estou melhor do que nunca.”

Fechou a porta. E com aquele clique seco, fechou um capítulo da vida.

Meses depois, Joana viajou novamente, desta vez para Coimbra, apresentar um projeto. Lá, conheceu gente nova—colegas, sonhadores como ela. E entre eles, alguém que a olhava não com posse, mas com respeito.

Não era um romance imediato—Joana não procurava isso ainda—mas o início de algo maior:
o seu renascimento como mulher livre, forte, e dona do próprio valor.

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