**Diário, 15 de Julho**
Hoje foi um dia que nunca vou esquecer. Eu e o meu namorado, o Ricardo, estávamos sentados num banco do Parque da Estrela. O sol estava quente, as crianças brincavam, e tudo parecia tranquilo. Aproveitávamos o momento, sem pressa, até que…
De repente, apareceu uma cadela. Parou a poucos passos de nós, olhou-nos fixamente com olhos assustados e começou a ladrar. No início, pensei que fosse só mais um animal de rua à procura de comida. O Ricardo tentou afastá-la com um gesto, mas ela não foi embora.
Continuou a ladrar, ora avançando, ora recuando, como se quisesse mostrar-nos alguma coisa. Já estava a ficar irritada com o barulho – parecia que aquele latido ecoava dentro da minha cabeça.
De súbito, ela saltou e colocou as patas dianteiras no meu colo. Dei um pulo, assustada. Pedi ao Ricardo para a afastar, mas, quando ele tentou, ela recuou, ladrou mais uma vez e começou a andar em círculos à nossa volta.
Troquei um olhar com o Ricardo – havia algo estranho no comportamento dela. Não parecia agressiva, mas era óbvio que queria comunicar-nos algo. Sentava-se, levantava-se, dava dois passos, olhava para trás e tornava a ladrar.
Foi então que aconteceu – num movimento rápido, a cadela agarrou a minha carteira, que estava em cima do banco, e disparou a correr.
Gritei. Lá dentro estavam o meu telemóvel, dinheiro e documentos. Eu e o Ricardo saltámos do banco e saímos atrás dela. O meu coração batia tão forte que pensei que ia saltar do peito. A princípio, julguei que era apenas um roubo, mas, à medida que corríamos, percebi que ela não queria fugir de vez. Virava-se, olhava para trás, e, se nos atrasávamos, parava, ladrava e continuava.
Perseguimo-la pelas alamedas do parque, sob o olhar espantado dos transeuntes. Finalmente, ela entrou num beco escuro, escondido entre as árvores, e parou de repente.
Colocou a carteira no chão com cuidado e sentou-se ao lado, ofegante. Aproximei-me para a apanhar, mas foi então que vi algo horrível…
Pouco mais adiante, junto a um caixote do lixo verde, havia um cachorrinho no chão. Estava imóvel, a ganir baixinho, com uma pata torcida de maneira estranha.
Tudo fez sentido. Era o filhote dela. Provavelmente, tinha sido atropelado ou maltratado. A cadela, desesperada, arranjara a única maneira de chamar a nossa atenção – roubar algo de valor.
Não hesitámos. Pegámos no cachorro e corremos para a clínica veterinária mais próxima. A mãe seguiu-nos o tempo todo, sem nos perder de vista, os olhos cheios de medo e esperança.
Enquanto os veterinários cuidavam dele, ela ficou sentada à porta da sala, à espera. Nunca tinha visto tanta devoção num animal.
Naquele momento, entendi – não era apenas uma cadela. Era uma mãe, disposta a tudo para salvar o seu filho.







