A Esposa Viajou a Trabalho por Um Mês… e ao Voltar, Descobriu Algo Inesperado Sob o Travesseiro do Marido

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Há muito tempo atrás, numa tarde soalheira de maio, quando as primeiras chuvas da estação começavam a cair sobre Lisboa, filigranas de dor e alegria se entrelaçariam na vida de Beatriz. A mulher acabara de regressar de uma longa viagem de trabalho no Porto, onde conduzira com mestria um projeto que lhe trouxera tanto orgulho quanto saudades do lar. Das malas pesadas que arrastava pelo corredor, a mais leve era a do coração, ansioso por reencontrar Duarte, o homem que lhe sussurrava “amo-te” todas as noites antes do sono.

Ao cruzar a soleira da sua moradia de dois andares no bairro de Alfama, o aroma a limão do chão recentemente lavado acolheu-a como um abraço discreto. Mal tivera tempo de pousar a bagagem quando os passos acelerados do marido desceram a escada em cascata de madeira.

“Afinal voltaste, minha flor!” exclamou Duarte, envolvendo-a num abraço que parecia querer compensar todos os dias de ausência. Aperto forte demais, quase sufocante, seguido de um sorriso que iluminava o rosto moreno: “Vamos para o quarto? Andei tão desesperado por ti…”

Beatriz riu, enterrando o nariz no ombro dele. O cheiro a alfazema, o bater acelerado do coração contra o seu, a luz nos olhos castanhos – tudo lhe dizia que estava em casa. Concordou, com uma condição: “Deixa-me primeiro tomar um banho.”

Duarte fez beicinho de criança contrariada, mas acatou. Enquanto ela se refrescava, ele preparou-lhe um sumo de laranja algarvio e colocou música fado baixinho. Pequenos gestos que, para Beatriz, valiam mais que todas as palavras.

Nessa noite, amaram-se como se o tempo não tivesse passado. Duarte adornou-lhe o pescoço com beijos e segredos doces, e ela sentiu-se a mulher mais sortuda do mundo. Sabia que muitas carregavam o fardo da vida sozinhas, mas ela tinha um homem que a adorava.

Na manhã seguinte, encontrou a mesa posta com pão quente, ovos mexidos e café com leite gelado, exatamente como gostava. “Fica bem, amorzinho”, murmurou ele ao sair para o trabalho. Beatriz sorriu. Diziam que os homens portugueses não eram românticos, mas o seu marido era a exceção.

Porém, a felicidade, tal como os azulejos antigos, belos e resistentes, pode rachar com o tempo.

Três dias depois, Beatriz encontrou um elástico de cabelo vermelho debaixo da almofada. Não era seu – jamais usaria aquela cor berrante. Segurou-o entre os dedos por longo tempo, sem sentir a fúria que imaginara, apenas uma tristeza profunda, como o último acorde de um fado distante. As mulheres têm um sexto sentido para estas coisas. Calou-se.

Naquela noite, repousando a cabeça no braço de Duarte, perguntou em voz suave: “Enquanto estive fora… veio alguém cá a casa?”

“Só o Vítor veio pedir a furadeira”, respondeu ele, rápido demais.

Beatriz anuiu em silêncio, mantendo a máscara de tranquilidade. O sorriso que forçou doeu-lhe nos lábios. Duarte não parecer notar – ou fingia bem. Continuou a abraçá-la, contando histórias do trabalho, mas cada palavra, em vez de preencher o vazio, alargava a ferida no peito dela.

Os sinais acumulavam-se: o elástico, um papel de rebuçado desconhecido sob a cama, o modo nervoso como Duarte virara o telemóvel ao receber uma mensagem. Peças de um puzzle doloroso que se encaixavam.

Numa noite, esperou que o marido adormecesse e, com mãos trémulas, pegou no seu telemóvel. O coração batia-lhe tão forte que temeu acordá-lo. Revistou chamadas, mensagens, redes sociais. Nada de estranho… até encontrar uma conversa com um nome feminino desconhecido.

Ler foi como levar uma punhalada. Primeiro, frases inocentes. Depois, palavras cada vez mais íntimas. “Tenho tanta saudade…” — “Combino contigo no sábado” — “O jantar foi perfeito” — “Boa noite, amor ❤”. As datas coincidiam precisamente com a sua ausência no Porto.

As lágrimas caíram-lhe silenciosas pelo rosto. Beatriz olhou para Duarte, tão plácido no seu sono enganador. “Enganaste-me, Duarte?”, sussurrou, sufocando os soluços.

Refugiou-se na casa de banho e chorou até não ter mais lágrimas. Mas ao erguer o olhar para o espelho, entre o rosto inchado e os olhos vermelhos, viu algo novo: determinação. Já não era a mulher frágil de minutos atrás.

Na manhã seguinte, confrontou-o com o elástico vermelho. “Explica-me isto.”

Ele gaguejou: “Deve ser do Vítor… deve ter deixado cá…” Ela cortou-lhe com uma gargalhada amarga: “O Vítor, homem de elásticos vermelhos? E também é ele que te manda mensagens a dizer ‘Tenho saudades, amor’? Achas que sou parva?”

Duarte empalideceu. O silêncio foi a sua confissão. Quando murmurou: “Perdoa-me… não sei o que me deu…”, Beatriz sentiu o mundo desabar.

Expulsou-o de casa. Chorou, desfez-se, telefonou à melhor amiga em busca de consolo. A casa, outrora um refúgio quente, transformara-se num lugar gelado, cheio de memórias falsas.

Sentada à janela, observando a chuva cair sobre os telhados de Alfama, Beatriz perguntou-se: Quantas lágrimas mais terei de derramar até encontrar paz?

E naquele sofrimento, nasceu uma certeza: a tempestade passaria, o sol voltaria a brilhar, e ela, embora partida, aprenderia a levantar-se. Porque até as cicatrizes mais profundas, um dia, se tornam marcas de força.

Os dias seguintes à partida de Duarte foram um inferno silencioso.
A casa parecia enorme demais, vazia demais. Cada canto — o sofá onde se abraçavam, a mesa onde partilhavam as refeições, a cama que ainda cheirava a ele — era um lembrete doloroso. Beatriz chorou até secar as lágrimas, deixando apenas um vazio gelado no peito.

Mas no meio daquela dor insuportável, algo começou a transformar-se dentro dela.
Um pensamento persistente repetia-se: “Não posso deixar que esta traição destrua o resto da minha vida.”

A primeira semana foi a pior. Beatriz mal comia ou dormia. As amigas revezavam-se a visitá-la, levando-lhe comida e distração. Uma delas disse: “Beatriz, ninguém merece as tuas lágrimas. Muito menos quem não te soube valorizar.”

Aquela frase ficou nela. Como um fósforo aceso na escuridão.

Pouco a pouco, Beatriz começou a retomar o controlo. Levantava-se cedo, vestia-se com cuidado mesmo sem precisar de sair. Enchia a casa de flores frescas, mudou os lençóis, pintou o quarto de outra cor. Como se com cada mudança apagasse um vestígio de Duarte.

No trabalho, entregava-se de corpo e alma. Os colegas admiravam-lhe a força, sem suspeitar da tempestade que enfrentara. Os projetos davam-lhe um propósito, uma razão para sair da cama. E cada vez que alguém reconhecia o seu talento, Beatriz sentia que recuperava uma parte de si mesma que Duarte nunca conseguiria destruir.

Três meses depois, era outra mulher. Os olhos, ainda marcados por cicatrizes invisíveis, brilhavam com nova luz. Perdera algum peso, mas a postura era mais firme, maisE quando, anos mais tarde, olhou para trás enquanto segurava a mão do homem que verdadeiramente a merecia, percebeu que todo aquele sofrimento fora necessário para chegar ali, inteira e finalmente feliz.

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